Pesquisa Coletiva

Arquivo Laboratório Urbano

Coordenação: Janaína Bechler

A pesquisa Arquivo Laboratório Urbano busca aparecimentos dos conceitos de “Experiência Urbana” e “Produção de Narrativas Urbanas” no material produzido por esse grupo de pesquisa, em publicações próprias, ou em pesquisas defendidas por membros do grupo. Está no terceiro ano de atividades, depois da sua retomada/ reformulada em junho de 2017.

Fragmentação e montagem dos fragmentos foram duas etapas da metodologia da pesquisa Arquivo Laboratório Urbano, acreditamos que essa maneira de relacionar os elementos presentes na produção desse grupo de pesquisa pode gerar novas construções do pensamento que problematizem o campo disciplinar do urbanismo e da história das cidades, tensionando formas de narração da experiência urbana. Como procedimento, aproxima-se da prática do colecionador, ou do catador, tão caras aos teóricos Aby Warburg e Walter Benjamin. Benjamin tinha um projeto de historiografia calcado no colecionismo, cujo ato descontextualiza os objetos para inseri-los em novas ordens, as quais serão montadas a cada vez, por cada “tempo presente”; por outro lado, era inspirado na figura do catador, que ele se volta para o esquecido, o considerado inútil.1 Esse material fragmentário coletado devia ser juntado segundo o princípio da montagem, montagem literária conforme ele nomeou: “como o alegorista-colecionador barroco, ele se volta para o pequeno e aparentemente sem importância para construir seu painel móvel do século XIX. Este é o cerne da ética da apresentação haurida por Benjamin” (SELIGMANN- SILVA, M. 2010 p 62).

Esse processo metodológico nos atrai por ser uma forma de construção experimental do conhecimento que instiga a imaginação, a fabulação e o trabalho criativo com as narrativas urbanas. Articulando o encontro de distintos fragmentos do material produzido pelo Laboratório Urbano, deixando aparecer o “entre”, o que não está em nenhum dos fragmentos do jogo, mas na relação travada no encontro deles como pedra fundamental da produção em questão, por esta maneira de fazer fugimos das amarras metodológicas tradicionais do conhecimento científico. Pelo crédito atribuído à heterogeneidade de conexões díspares como modus operandi do pensamento, acreditamos que a pesquisa Arquivo pode aproximar-se mais da complexidade constituinte da experiência da cidade contemporânea, assim como da construção do conhecimento que dela deriva.

Durante um período de leituras e produção da fragmentação desse material, surgiu uma questão temporal que se evidenciou cada vez mais nitidamente. Alguns conceitos que eram chaves para entendimentos, tensionamentos e problematizações na produção do laboratório urbano, de forma central, gradualmente eram colocados na sombra de outros que, sucessivamente, ganhavam maior evidência. Perceber esse movimento temporal nos conduziu a um corte no arquivo, em torno de conceitos-tempos que chamamos de marcadores:

1. Corpo – da criação do grupo até 2012, o surgimento dele da pesquisa PRONEM (Experiências metodológicas para a compreensão da cidade contemporânea);

2. Experiência – 2012–2014 – período da pesquisa do PRONEM;

3. Narrativa – 2014 em diante – foco surgindo já durante a produção do material oriundo da pesquisa PRONEM, e que foi ganhando força até o momento atual do Laboratório Urbano.

Evidentemente esse corte temporal-conceitual é um artifício de organização de um arquivo próprio dessa pesquisa, baseado nos conceitos que nos acompanham desde seu início, experiência e narrativa, sem a pretensão de representar o arquivo do Laboratório Urbano.

No atual momento da pesquisa, decidimos produzir foco em um material que, apesar de abundante, quase não aparecia em nossos fragmentos, e, quando aparecia, ficava fora da montagem, como sobra, sem lugar. Trata-se dos inúmeros relatos de experiências urbanas, escritos em primeira pessoa, que aparecem principalmente nas temporalidades que nomeamos Corpo e Experiência , nas primeiras redobras e uma parte do material produzido na pesquisa PRONEM. Uma questão está por se delinear, mas ela contorna ainda do tema principal da pesquisa Arquivo e que atravessa todos os outros marcadores que inventamos, a narração de uma experiência singular na cidade contemporânea – o que seria uma “experiência singular”, na tensão com uma “experiência individual” ou com uma “experiência do coletivo” ou com uma “experiência passível de ser coletiva”. Como tratar esse “eu” que aparece nos relatos? Qual interesse/importância desses relatos para o campo de pesquisa do urbanismo? Começamos a fazer a leitura desse material, e paralelamente, um estudo sobre conceitos de arquivo/arquivamento/anarquivamento.

Nota 1:

SELIGMANN-SILVA, M. A atualidade de Walter Benjamin e de Theodor W. Adorno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.


Período

2016-Atual


Equipe Atual

Janaína Bechler (Pós-doutorado PPGAU/FA-UFBA) – Coordenadora; Eliana Rosa de Queiroz Barbosa (Pós-doutorado PPGAU/FA-UFBA); Agnes Cajaiba Viana (Doutorado PPGAU/FA-UFBA); Marcos Vinícius Britto (Doutorado PPGAU/FA-UFBA); Oswaldo Francisco Freitez Carrilo (Mestrado PPGAU/FA-UFBA); Rafael Luis Simões Souza e Silva (Mestrado PPGAU/FA-UFBA); Lucas Maciel Araújo (Mestrado PPGAU/FA-UFBA); Maria Eduarda Azevedo (Mestrado PPGAU/FA-UFBA); Gábe Maria Pires dos Santos (Mestrado PPGAU/FA-UFBA).