DOUTORADO SANDUÍCHE
Espaços humanos e corpos urbanos. Abordagens performativas como contribuição metodológica para o urbanismo corpóreo
Gloria Caldeirone
Esta pesquisa reflete sobre o papel do corpo no direcionamento do design do espaço público e a contribuição metodológica das artes performáticas na expansão das possibilidades de ler e escrever os lugares. O espaço poroso do corpo é visto como uma abertura sensível para o mundo e como um campo performativo a partir do qual instâncias e identidades individuais e coletivas se manifestam. Nesse sentido, o corpo é um sujeito conhecedor que pode informar o projeto: suas expressões e extensões plurais estão ligadas ao ambiente em uma relação simétrica e mútua de coevolução. Em relação a isso, a pesquisa denuncia a marginalidade do corpo nas abordagens tradicionais da disciplina urbana. Saindo dessa marginalidade, ainda ligada a um posicionamento epistemológico determinista e positivista, afirma a importância de incluir a corporeidade da experiência espacial nos métodos de pesquisa e prática urbana. Assim, surgem várias perguntas. Como sensualizar a disciplina? Como restaurar a confiança na proximidade tátil, estética e relacional? Como devolver ao corpo um papel ativo na criação de projetos? As abordagens metodológicas das artes performáticas site-specific, na forma de práticas exploratórias baseadas no corpo, apresentam-se como uma possível resposta em virtude de sua natureza corpórea e sensível, bem como da possibilidade de abertura aos habitantes por meio de experiências participativas. Se incluídas nos processos de design de espaços públicos juntamente com as ferramentas técnicas de planejamento urbano, as posturas sensíveis das práticas artístico-performáticas podem reabilitar as lógicas orgânicas e afetivas das quais a experiência de viver é feita. Partindo de outra interpretação do território, essas posturas também podem integrar o projeto e orientá-lo no sentido de um “urbanismo performativo”, ou seja, concebido para projetar não apenas espaços, mas a experiência dos corpos que se movem nos espaços. Explorando algumas possibilidades de hibridização metodológica e seus resultados, esta pesquisa visa estimular ações concebidas como “cor-projet-ações” de espaços. A hipótese é que a ação artístico-performativa pode ser uma ferramenta para analisar e ressignificar o espaço a partir de uma perspectiva transformadora, que reafirma a centralidade da relação horizontal entre corpos e espaços. Por meio de uma abordagem transdisciplinar e empírica, desafiamos as categorias interpretativas dominantes e, em última análise, tentamos fazer da experiência estética a base para outra epistemologia, capaz de orientar a compreensão e a transformação do espaço público.
Referências
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Palavras-chave: Corpo. Corprojetações. Urbanismo performativo.
ORIENTADOR
Raffaele Paloscia
COORIENTADORA
Paola Berenstein Jacques
Stefania Crobe
PERÍODO
Doutorado: 2019-2024
Doutorado Sanduíche: 2022