Doutorado

Pedagogia do Canteiro: A via sursis do corpo no aprendizado de Arquitetura e Urbanismo

Francisco Rocha Vasconcelos Neto

O Trabalho propõem uma investigação nas estruturas de ensino e aprendizagem da arquitetura, objetivando

se estratégias pedagógicas radicais (de canteiro, entre outras) associadas ao uso das artes do corpo como estimulo sensível pode se constituir em um instrumento de combate ao analfabetismo funcional sensitivo em aprendizados de arquitetura e urbanismo.

O debate sobre o entendimento da arquitetura para além de suas funções de abrigo ou de sua dimensão técnica, científica, humanística foi permeado ao longo da história deixando à margem dos fundamentos teóricos a importância dos sentidos humanos. Mas o assunto sempre esteve presente ao longo da História da Humanidade, e a partir da segunda metade do século XX, ganha aportes, sobretudo com o foco no pensamento sensível e simbólico e no uso do corpo humano como instrumento e dispositivo para produção de conhecimento.

A preocupação com o defict de aprendizagem em disciplinas de projeto de arquitetura, que pode se reverter em perdas desde a qualidade compositiva espacial, passando pelas questões técnicas, e alcançando a construção de consciências sociais, tem se configurado como um sinal sobre a qualidade da formação do arquiteto e urbanista no Brasil, e vem se constituindo desde de 1975, num foco de ações e publicações de diversas entidades ligadas ao ensino da arquitetura no Brasil (MONTEIRO, 2013).

A percepção de espaços configurados a partir de critérios quantitativos em detrimento dos qualitativos nos recentes modelos construídos de edifícios públicos e privados , além dos baixos índices de atuação do arquiteto no total de obras construídas no Brasil, 15% segundo pesquisa CAU-BR/DATAFOLHA de 2015, indicam a pouca penetração do profissional arquiteto nas decisões sobre o total de obras executadas no país.

“O ensino institucional da arquitetura no Brasil é considerado insatisfatório de forma quase consensual.Tem sido objeto de inúmeras e continuadas reformulações em sua curta história de pouco mais de seis décadas, sem contudo se obter maiores avanços…A partir da hipótese de que o problema do ensino da arquitetura, é na realidade, problema do ensino de projeto, analisa-se o conflito conceitual e organizacional entre o ateliê, considerado locus privilegiado para o ensino de projeto e a estrutura disciplinar em que está inserido. Este conflito estaria aparentemente na raiz da persistência do problema do ensino do projeto, apesar das sucessivas reformulações…” (NARUTO, 2006 p.05).

Numa leitura rápida em projetos pedagógicos atuais, nota-se que a prática do canteiro ainda não é uma realidade no quotidiano de grande parte das escolas de arquitetura, contribuindo para o que se pode denominar de “analfabetismo funcional” e que este projeto pretende denominar de “analfabetismo funcional sensitivo” em face de, ao mesmo tempo, também se observar uma lacuna em disciplinas que se dediquem ao estímulo sensível, tais como são as artes do corpo. O acesso a mecanismos de estímulos e acionamento do dispositivo da sensibilidade e a processos criativos em disciplinas de projeto, via campos do conhecimento externos a arquitetura, tem um histórico que se alarga hoje pela neurociência, mas que se consolidou desde o passado nas experiências de Rudolf Laban e da Bauhaus alemã. O tema antecedido à Bauhaus pela Vkhutemas-Construtivismo Russo pós revolução de 1917 e Deutscher Werkbund, e precedido a ela, pelas sucessivas experiências de pedagogias radicais em arquitetura, segundo Radical Pedagogies (2014), são exemplos de experiências de construção de projetos pedagógicos de cursos de arquitetura no Brasil e no exterior. Porém, o uso da sensibilidade e da criatividade em vias externas à arquitetura, pouco têm sido presente nas práticas de ensino e aprendizagem no país.

As atividades práticas, assim como as artes do corpo, são reconhecidos atributos essenciais para assimilação do conhecimento. O aprender fazendo como experiência pedagógica, tem promovido integração desde a filosofia na corrente da fenomenologia, o teatro pro Augusto Boal, a educação por Paulo Freire e a Antroposofia de Rudolf Steiner, com a arquitetura através de grupos como Arquitetura Nova, Tibá -, e cotejando diversos laboratórios de habitação em escolas de arquitetura no Brasil, em especial o da UNICAMP e, enfim, por toda uma rede de ativismo como o Usina-CTAH, Atelier Vivo os movimentos de Bioarquitetura e Design build em Arquitetura e também movimentos ativistas do corpo como os situacionistas, o grupo stalker entre outros, porém têm sido utilizados de maneira secundária ou ainda ignorados no panorama geral da formação do arquiteto e urbanista no Brasil.

Daí que este projeto de doutoramento se insere nesse universo de conhecimento.


A relevância da investigação sobre o tema se manifesta por:

1) Contribuir para os aprendizados das novas gerações de arquitetos.
2) Possibilitar a investigação e abordagem sobre a pertinência do campo do sensível e das práticas pedagógicas em canteiros de obras para efetivação da formação de arquitetos no Brasil.
3) Permitir o incremento e a melhoria nas abordagens de reflexões dos projetos pedagógicos de escolas emergentes de arquitetura e das ações metodologicas de grupos ativistas ligados às praticas de canteiros de obras.
4) Ampliar o debate e atuação sobre o papel social do arquiteto e às alternativas para aproximação da profissão com a sociedade.
5) Contribuir para reflexões e postura nas ações de ocupações emergenciais de espaços na cidade.
6) Aproveitar a transdisciplinaridade que caracteriza o Programa de Pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, para investigação e acréscimo de conteúdos a serem adotados no desenvolvimento de metodologias de trabalho.


Objetivo Geral

Investigar se projetos pedagógicos radicais e ações metodológicas de grupos ativista ligados as artes do corpo e às praticas de canteiro de obras podem contribuir para a formação do arquiteto e urbanista.


Objetivos Específicos

1) Caracterizar o que identifica a organização e forma de trabalho dos projetos pedagógicos e das ações metodológicas em escolas e escolas e grupos ativistas;

2) Investigar pesquisas que apontem a efetividade das práticas do sensível para os resultados das práticas projetuais;

3) Identificar e extrair posturas metodológicas que possam ser aplicadas no ensino;

4) Registrar de forma investigativa e observadora ações de intervenção e momentos de reflexão metodológica de grupos ativistas contrapondo análises criticas dos produtos elaborados;

5) Estabelecer critérios auxiliares e complementares às metodologias estudadas e observadas, para efetivação das reflexões e possíveis usos futuros como ferramenta de ensino e aprendizagem.


Palavras-chave: Arquitetura e Urbanismo. Design Build. Pedagogia. Sensibilidade. Artes do Corpo


ORIENTADORA

Margareth da Silva Pereira


PERÍODO

2021-atual